Nos dias de hoje, a comunicação eficaz é uma habilidade essencial tanto no ambiente profissional quanto pessoal. Apresentações visuais em Power Point (PPT) ou similares são ferramentas poderosas para transmitir informações, influenciar decisões e engajar audiências. No entanto, a eficácia dessas apresentações pode ser significativamente prejudicada se não forem planejadas com acessibilidade desde o início.
A acessibilidade nas apresentações não é apenas uma questão de cumprir normas ou atender a um público específico; é uma prática fundamental de respeito e inclusão. Quando criamos slides e outros materiais visuais que consideram as diversas necessidades das pessoas que nos assistem, estamos promovendo um ambiente onde todo mundo tem as mesmas oportunidades de compreensão e participação. Isso inclui pessoas com deficiência visual, auditiva, cognitiva, ou qualquer outra condição que possa impactar a maneira como elas recebem, percebem e processam informações.
Implementar práticas acessíveis em suas apresentações não é apenas um gesto de inclusão. É também uma estratégia para aumentar a clareza e a eficácia da comunicação de um modo geral, o que torna o processo muito mais produtivo.
Estudos mostram que medidas simples – como ajustar o tamanho da fonte, descrever imagens e garantir bom contraste de cores – podem fazer uma diferença significativa na compreensão e retenção da informação.
Portanto, ao adotar essas práticas, você não apenas melhora a experiência para pessoas com necessidades específicas, mas também eleva o nível geral de suas apresentações, tornando-as mais profissionais, impactantes e eficientes.
A seguir, há dicas essenciais que podem ajudar você a tornar suas apresentações mais acessíveis e inclusivas.
FONTE
Tamanho: Utilize fontes com um tamanho mínimo de 25 pontos.
Estilo: Prefira fontes sem serifa (pequenos traços e prolongamentos no fim das hastes das letras), como Arial, Tahoma, Verdana, Lato, Poppins, entre outras. Evite o uso de itálico, pois pode ser difícil de ler para algumas pessoas.
Imagens
Texto alternativo: Ao inserir uma imagem em um slide, clique com o botão direito do mouse para adicionar uma descrição no campo “texto alternativo”. Isso ajuda pessoas com deficiência visual que utilizam leitores de tela a entenderem o conteúdo visual quando receberem sua apresentação por e-mail ou em outro canal.
Descrição Oral: Durante a apresentação, descreva verbalmente gráficos, imagens e vídeos para beneficiar pessoas que não possam enxergá-los por qualquer que seja o motivo.
Nitidez: Escolha imagens com boa nitidez e as amplie, se for o caso, até o ponto em que ela não se desconfigure ou perca qualidade. Essa dica vale especialmente para imagens que são parte da informação, ou seja, não são meramente decorativas.
Contraste
Use cores de fonte e de fundo que tenham um bom contraste. Isso melhora a leitura para pessoas com daltonismo, baixa visão ou outras deficiências visuais. Na verdade, garantir um bom contraste valoriza seu conteúdo e destaca as informações para todas as pessoas. Utilize ferramentas como a Color Adobe (Color Contrast Analyzer) para verificar a melhor taxa de contraste.
Alinhamento do texto
O alinhamento à esquerda é essencial para a acessibilidade porque oferece um ponto de partida consistente para cada linha, facilitando a leitura linear e reduzindo a fadiga ocular. Ele assegura um espaçamento uniforme entre palavras, evitando distrações causadas por espaços irregulares comuns em texto justificado.
Além disso, beneficia especialmente pessoas com dislexia, proporcionando um fluxo natural de leitura e diminuindo barreiras visuais. Esse padrão é globalmente reconhecido e segui-lo ajuda a manter a consistência e facilita a adaptação de todas as pessoas que lerem seu material.
Texto
Frases curtas e ordem direta: Evite frases longas, mantendo-as com até 20 palavras, e use a ordem direta (sujeito + verbo + complemento) para maior clareza, pois segue o padrão natural da língua oral. Por exemplo, “A pesquisadora apresentou os resultados” é mais fácil de entender do que “Os resultados foram apresentados pela pesquisadora”.
Palavras simples e conhecidas: Prefira palavras simples e conhecidas, explicando qualquer jargão ou sigla utilizada para garantir a compreensão de sua audiência. Isso garante que todas as pessoas de sua audiência, independentemente de seu nível de conhecimento prévio, possam acompanhar a apresentação sem dificuldades. Essas práticas facilitam a leitura e a compreensão, beneficiando especialmente pessoas com dificuldades de leitura ou concentração.
Padrão
Manter o mesmo padrão e estilo em toda a apresentação melhora a compreensão ao criar uma experiência visual coesa e previsível. Isso é especialmente benéfico para pessoas neuroatípicas, pois reduz a ansiedade, facilita a navegação e minimiza distrações, permitindo uma maior concentração no conteúdo. Consistência visual e estrutural apoia a memória e a retenção de informações, tornando a apresentação mais eficaz para todas as pessoas.
Movimentos
Evite usar animações intensas e imagens com movimentos repetitivos em suas apresentações. Esses elementos podem desviar a atenção do conteúdo principal e interromper o fluxo da apresentação. Além disso, são particularmente prejudiciais para pessoas neurodivergentes, como aquelas com autismo, TDAH ou epilepsia, pois podem causar sobrecarga sensorial, desconforto físico, ansiedade e até crises.
Prefira animações suaves, sem sons em efeitos de transição de slides e movimentos mínimos para criar um ambiente mais confortável, sem distrações e acessível para sua audiência.
Vale cuidar também dos seus movimentos no palco, caso sua apresentação seja presencial. O recomendado é não ficar parado ou parada num único ponto enquanto fala. Porém, andar pra lá e pra cá o tempo todo pode provocar perda de foco e alguns desconfortos visuais na plateia.
Redundância
Para garantir que informações importantes sejam compreendidas por todas as pessoas, especialmente as daltônicas, não dependa exclusivamente das cores. Use textos explicativos, símbolos e padrões (como listras e pontos) para complementar o uso de cores, e combine cores com alto contraste para melhorar a visibilidade. Isso assegura que a informação seja acessível e compreensível, promovendo a inclusão e evitando mal-entendidos devido às possíveis limitações na percepção de cores.
Vídeos
Legendas: Inclua legendas para beneficiar pessoas com deficiência auditiva e para quem não é nativa em seu idioma. Legendas também auxiliam bastante pessoas neuroatípicas.
Libras e audiodescrição: Sempre que possível, inclua Libras e audiodescrição para facilitar a compreensão de pessoas surdas e com deficiência visual, respectivamente. Se o vídeo não tiver audiodescrição, forneça uma descrição geral no material de apoio enviado após a apresentação, garantindo que se possa acessar as informações visuais importantes do vídeo.
Estrutura dos slides
Inclua um slide de sumário no início da apresentação e utilize títulos claros e consistentes para facilitar a navegação. Considere incluir links de navegação nos slides para que as pessoas possam facilmente voltar ao sumário ou pular para seções específicas. Esta dica é mais utilizada em apresentações muito longas e/ou que sejam utilizadas como material de estudo ou de consulta.
Interatividade
Planejar momentos para perguntas e respostas durante a apresentação é uma prática de acessibilidade importante. Isso permite que o público esclareça dúvidas, promovendo uma compreensão mais profunda e individualizada do conteúdo. A interatividade resultante aumenta o engajamento e adapta a apresentação às necessidades específicas de pessoas com diferentes tipos de deficiência ou condições neurodivergentes, garantindo uma experiência mais inclusiva, acessível e humanizada.
Velocidade da apresentação
Apresentar as informações em um ritmo moderado é crucial para garantir a acessibilidade da apresentação. Isso permite que sua audiência tenha tempo suficiente para ler e compreender o conteúdo de seus slides e sua explanação. Esse comportamento é especialmente benéfico para pessoas neuroatípicas.
Além disso, um ritmo adequado facilita a memorização e a retenção de informações, permitindo que façam anotações e participem de perguntas e discussões. Incorporar pausas estratégicas e verificar regularmente o entendimento da audiência promove um ambiente de aprendizado mais inclusivo e interativo, garantindo que todas as pessoas possam seguir o fluxo da apresentação sem se sentirem apressadas ou sobrecarregadas.
Material de apoio
Sempre que possível, disponibilize os slides e outros materiais de apoio antes ou depois da apresentação em formatos acessíveis (PDFs, ePubs, HTML, Word etc.). Isso permite que as pessoas se preparem e revisitem o conteúdo no seu próprio ritmo, garantindo uma melhor retenção e compreensão das informações. Lembre-se sempre de incluir descrições alternativas para imagens e gráficos para quem utiliza leitor de telas poder consumir o conteúdo sem dificuldade.
Ferramentas de apoio
Microsoft Power Point
Além do “validador de acessibilidade”, utilize as ferramentas integradas no PowerPoint, como a verificação ortográfica e sugestões de design, para aprimorar a clareza e a aparência da apresentação.
Google Slides
Embora o Google Slides não tenha um “validador de acessibilidade” integrado como o PowerPoint, existem complementos e extensões que podem ajudar a melhorar a acessibilidade de sua apresentação, como o “Grackle Slides”.
Canva
No Canva, siga boas práticas de design, como usar fontes grandes e legíveis, contrastes de cores fortes, e evitar o excesso de elementos visuais complexos. Lembre-se de descrever as imagens importantes no campo apropriado do Canva e marcar como decorativas as que não forem relevantes para a compreensão do conteúdo.
Salve-a em PDF para compartilhar com as pessoas, checando antes se a ordem de leitura pelo leitor de telas está correta. Caso você utilize o Power Point, baixe-o do Canva em formato PPTX para verificar a acessibilidade usando o validador da Microsoft antes de salvá-lo em PDF.
Seguir essas diretrizes não só promove a inclusão, mas também melhora a qualidade e eficácia de suas apresentações para todos os perfis de audiência. Adotar práticas acessíveis é uma atitude importante para garantir equidade no compartilhamento de informações, permitindo que pessoas diversas participem e compreendam plenamente a mensagem que você quer passar, além de permitir que elas contribuam com suas ideias. É o que se chama de colaboração produtiva.