A linguagem que usamos diariamente tem um poder significativo. Ela não apenas comunica informações, mas também molda nossa percepção do mundo e das pessoas ao nosso redor. No entanto, muitas vezes falhamos em reconhecer como nossas palavras podem ser prejudiciais, especialmente quando se trata de pessoas com deficiência.
Expressões aparentemente inofensivas como “se fazer de surdo”, “dar uma de João sem braço” ou “deixa de ser retardado” podem, na verdade, perpetuar preconceitos e discriminações contra pessoas com deficiência.
Essa forma de linguagem é chamada de capacitismo linguístico, um termo que ganha cada vez mais destaque na luta pela inclusão e igualdade. Ele se refere à prática de usar palavras ou expressões que desvalorizam ou estigmatizam pessoas com deficiência, reforçando uma visão negativa e discriminatória.
Felizmente, a conscientização sobre o capacitismo linguístico está crescendo. Uma matéria esclarecedora da BBC aborda o assunto em detalhes, oferecendo depoimentos impactantes e sugestões valiosas sobre como podemos eliminar essas expressões prejudiciais de nosso vocabulário. O tema também tem ganhado mais espaço nas mídias sociais.
Nos últimos anos, temos testemunhado uma mudança significativa na percepção e abordagem das questões relacionadas à inclusão e ao preconceito. Essa transformação tem sido impulsionada por diversos fatores. A disseminação de informações e a conscientização sobre as experiências das pessoas com deficiência têm desempenhado um papel fundamental, juntamente com campanhas, movimentos e vozes influentes que ampliam o entendimento sobre o capacitismo e seus impactos negativos.
Além disso, o movimento pela igualdade de direitos e oportunidades para todas as pessoas, independentemente de suas habilidades, ganhou força, levando a uma maior atenção às desigualdades e injustiças enfrentadas pelas pessoas com deficiência.
Houve uma mudança de paradigma significativa, onde antes a deficiência era vista como uma limitação, hoje reconhecemos a diversidade de habilidades como um enriquecimento para a sociedade. As pessoas com deficiência estão cada vez mais empoderadas para compartilhar suas histórias, desafiar estereótipos e reivindicar seu espaço, não se definindo mais por suas limitações, mas sim por suas conquistas e potencial.
Além disso, a evolução das leis e políticas para garantir acessibilidade, igualdade de oportunidades e proteção dos direitos das pessoas com deficiência tem criado um ambiente mais propício para a mudança de mentalidade.
No entanto, é importante entender que essa mudança não acontece da noite para o dia. Trata-se de uma transformação comportamental que exige atenção constante e comprometimento com a promoção de uma linguagem inclusiva e respeitosa.
10 expressões capacitistas para você nunca mais usar
1. “Coitado”:
Quando alguém usa a expressão “coitado” para se referir a alguém, geralmente está expressando pena ou compaixão pela situação da pessoa em questão. No entanto, quando usado de forma inadequada, especialmente em relação a pessoas com deficiência, pode ser considerado ofensivo e diminuir a dignidade da pessoa.
2. “Muito autista”:
Quando alguém diz que outra pessoa está “muito autista”, geralmente está usando isso de forma pejorativa para descrever comportamentos estranhos ou incomuns. Essa expressão é prejudicial, pois associa negativamente características de uma condição (autismo) a comportamentos negativos.
3. “Fingir demência”:
Usar a expressão “fingir demência” significa agir como se não se tivesse conhecimento ou consciência de algo deliberadamente. No entanto, essa expressão é desrespeitosa e perpetua estigmas em relação a pessoas com deficiência mental, sugerindo que a demência é algo que pode ser simulado ou brincado.
4. “Dar uma de João sem braço”:
Esta expressão é usada para descrever alguém que está agindo de forma desajeitada, incompetente ou desatenta. É altamente ofensiva e não deve ser dita, pois usa a deficiência física de uma pessoa como motivo de deboche ou insulto.
5. “Se fazer de surda”:
Quando alguém diz que outra pessoa está “se fazendo de surda”, geralmente significa que ela está agindo como se não estivesse ouvindo ou entendendo algo, mesmo que esteja consciente da situação. Isso sugere que a surdez está associada à ignorância intencional, o que é prejudicial e falso.
6. “Deixa de ser retardada”:
Esta expressão é usada de forma pejorativa para insultar alguém, sugerindo que a pessoa é lenta, estúpida ou incapaz. No entanto, é altamente ofensiva e perpetua estigmas negativos em relação a pessoas com deficiência intelectual.
7. “A faca está cega”:
Quando alguém diz que “a faca está cega”, ela está se referindo ao fato de que a lâmina da faca perdeu o seu fio e, portanto, não é mais eficaz para cortar. Embora a intenção não seja associar a cegueira de forma direta à inutilidade ou falta de eficácia da faca, esta expressão sugere implicitamente que a cegueira está relacionada a algo negativo, que não tem serventia.
8. “Fulana é braço curto”:
Esta expressão geralmente é usada para descrever alguém que evita fazer trabalho árduo, demonstra preguiça ou não está a fim de se esforçar. Ela sugere que a pessoa é relutante em realizar tarefas que exigem esforço físico ou mental, preferindo evitar o trabalho. Esta expressão não deve ser usada porque pode ser considerada depreciativa devido à associação com estereótipos sobre pessoas com deficiência física, desvalorizando suas habilidades e potenciais.
9. “Cega para o óbvio”:
Utilizado quando alguém parece não perceber algo evidente, esta expressão implica que a cegueira está relacionada à falta de discernimento ou inteligência. Isso desconsidera a capacidade das pessoas cegas e perpetua estigmas sobre deficiência visual.
10. “Surda para críticas”:
Quando uma pessoa é descrita como “surda para críticas”, significa que ela não está disposta a aceitar ou considerar críticas. Essa expressão associa a surdez à ignorância ou falta de receptividade, o que é extremamente prejudicial e desrespeitoso para com as pessoas surdas.
Dicas para desconstruir o capacitismo linguístico
Seguem algumas dicas práticas para desenvolver mais consciência sobre as expressões capacitistas que usamos e eliminá-las do nosso vocabulário:
Eduque-se: dedique um tempo para aprender sobre o capacitismo e suas ramificações. Leia artigos, assista a vídeos e busque entender como certas palavras e expressões podem ser prejudiciais.
Examine seu vocabulário: faça uma análise crítica das palavras e expressões que você utiliza comumente. Identifique aquelas que podem ser capacitistas e esteja aberto a substituí-las por alternativas mais inclusivas.
Pense antes de falar: antes de proferir uma palavra ou expressão, pause por um momento e reflita sobre seu significado e impacto. Pergunte-se se há uma maneira mais respeitosa e inclusiva de se comunicar.
Seja sensível às pessoas: atente-se às reações de quem está ao seu redor. Se alguém indicar que uma expressão que você usou é ofensiva ou prejudicial, demonstre disponibilidade a ouvir e aprender com essa experiência.
Esse processo de conscientização vai além das palavras. Envolve também ações concretas para garantir a igualdade de oportunidades e o respeito aos direitos das pessoas com deficiência em todas as esferas da sociedade.
Procure conscientemente incluir pessoas com deficiência em suas conversas e interações. Valorize suas perspectivas e experiências, e reconheça sua dignidade e autonomia.
Eu desenvolvi uma metodologia voltada para essa mudança comportamental, visando tornar a comunicação interpessoal mais harmoniosa e produtiva. É um processo que demanda esforço e dedicação, mas os resultados são significativos, contribuindo para um mundo mais inclusivo e justo para todos.
Envie uma mensagem para mim e vamos conversar mais sobre o tema e criar estratégias para combater o capacitismo e outras tantas formas de preconceito em sua organização.