Durante este ano, participei de um grupo de estudos na Associação Brasileira de Recursos Humanos de São Paulo (ABRH-SP) sobre constelações sistêmicas organizacionais.
Eu já tinha ouvido falar das constelações familiares, mas nunca relacionado ao ambiente corporativo. Obviamente que a curiosidade bateu e entrei no grupo para aprender a respeito. E não é que me surpreendi positivamente com o assunto e vi total relação entre ele com a minha linha de trabalho!
Vou compartilhar com você neste artigo um pouco do que aprendi e como incorporei mais este conceito na comunicação produtiva.
O que são constelações sistêmicas organizacionais?
Constelações sistêmicas organizacionais são uma metodologia inspirada nas constelações familiares, desenvolvidas pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger por volta dos anos de 1980. Este método visa compreender e harmonizar dinâmicas ocultas que afetam o funcionamento de grupos e empresas.
Embora inicialmente voltadas para questões familiares, as constelações passaram a ser aplicadas ao mundo corporativo para ajudar líderes e equipes a identificarem padrões de comportamento e de relacionamento que influenciam o desempenho das organizações.
Essencialmente, as constelações sistêmicas revelam como as pessoas, os papéis e as histórias se interconectam em um sistema maior, que é a organização como um todo.
Ao abordar as relações dentro da empresa a partir dessa perspectiva sistêmica, é possível identificar pontos de desequilíbrio que afetam diretamente a produtividade, o clima organizacional e a comunicação.
Compreender essas dinâmicas é fundamental para lideranças, profissionais de recursos humanos, de consultorias organizacionais e de gestão de mudança. Muitas vezes, problemas aparentemente isolados, como dificuldades de comunicação ou conflitos internos, estão enraizados em questões sistêmicas mais profundas, como desrespeito às hierarquias ou exclusão de membros importantes da história da empresa.
É por isso que o conhecimento sobre constelações organizacionais é uma ferramenta valiosa para líderes que desejam promover um ambiente de trabalho mais harmônico e produtivo.
Os três pilares das constelações sistêmicas e a comunicação produtiva
No grupo de estudos da ABRH-SP sobre constelações sistêmicas organizacionais fiquei impressionada com a profundidade dos três pilares que sustentam essa metodologia: pertencimento, hierarquia e equilíbrio.
O que inicialmente parecia algo abstrato, revelou-se para mim uma abordagem prática e poderosa para melhorar a comunicação e os relacionamentos dentro das empresas.
Esses três pilares também se conectam de maneira intrínseca ao conceito de comunicação produtiva, que é o ponto central do meu trabalho. A comunicação dentro da empresa se torna mais fluida, assertiva e inclusiva quando esses pilares são respeitados.
Vamos entender como cada um deles impacta diretamente o modo como nos comunicamos nas organizações.
1º PILAR: Pertencimento
O pilar do Pertencimento fala sobre a importância de cada pessoa sentir-se parte do sistema em que está inserida. Nas organizações, isso significa que todos os colaboradores e colaboradoras, independentemente de seu nível hierárquico, precisam sentir que suas contribuições são valorizadas. Isso reflete diretamente na comunicação.
Uma comunicação produtiva começa com a criação de um ambiente onde as pessoas se sentem incluídas e ouvidas. Quando há pertencimento, elas se sentem à vontade para expressar suas ideias e preocupações, sabendo que suas vozes serão respeitadas. Ferramentas como a criação de espaços para escuta ativa, como reuniões abertas para troca de ideias, a linguagem inclusiva e a comunicação não violenta são fundamentais para garantir que esse pilar seja implementado no cotidiano organizacional.
A comunicação sofre com desconfiança e silêncio, prejudicando a troca de informações e o fluxo das ideias se as pessoas não se sentem pertencentes. Assim, cultivar pertencimento é garantir que a comunicação produtiva tenha uma base sólida.
2º PILAR: Hierarquia
O pilar da Hierarquia nas constelações sistêmicas organiza o sistema com base no respeito ao tempo e à ordem de entrada das pessoas. Isso significa que, dentro de uma empresa, é crucial reconhecer e honrar a história de quem veio antes – como as pessoas fundadoras e as lideranças mais antigas –, além de garantir que cada uma esteja ocupando o lugar adequado em termos de responsabilidade e poder de decisão.
Na comunicação produtiva, respeitar a hierarquia traz clareza ao processo comunicativo. As pessoas sabem a quem se dirigir para resolver questões e quais são as suas funções dentro do sistema. Isso evita ruídos, promove alinhamento estratégico e melhora a fluidez das informações.
A hierarquia, quando bem trabalhada, não cria distanciamento, mas, sim, um fluxo natural de comunicação onde todas as pessoas envolvidas sabem seu papel e como colaborar para o sucesso coletivo.
Um exemplo prático é o registro formal da história de quem fundou a empresa, seja por meio de um livro ou outra mídia, o que reforça a valorização das origens e inspira colaboradores e colaboradoras a continuar essa jornada.
Outra sugestão poderosa relacionada a este pilar é a criação de mentorias entre gerações com profissionais da mesma organização.
3º PILAR: Equilíbrio
O terceiro pilar, Equilíbrio, refere-se à necessidade de haver uma troca justa dentro das organizações. Isso envolve desde salários adequados e reconhecimento até o equilíbrio emocional nas relações de trabalho. Numa constelação organizacional, quando esse equilíbrio é quebrado, surgem insatisfações, desmotivação e, consequentemente, falhas na comunicação.
A comunicação produtiva desempenha um papel essencial no restabelecimento e manutenção desse equilíbrio.
Por meio de feedbacks constantes e construtivos, as pessoas se sentem reconhecidas e sabem como podem melhorar. A troca de informações passa a ser transparente e aberta, promovendo um ambiente em que todo mundo se sente recompensado de forma justa por suas contribuições.
Além disso, o feedback genuíno, quando feito de forma empática e respeitosa, fortalece a confiança entre líderes e equipes, criando um ciclo virtuoso de crescimento e melhorias contínuas. E se for no modelo 360º, aquele que envolve todo o time, será ainda mais eficaz.
A conexão entre constelações sistêmicas e comunicação produtiva
Quando combinamos os três pilares das constelações sistêmicas com a comunicação produtiva, percebemos que o grande impacto é a criação de um ambiente de trabalho onde as relações são mais saudáveis, os ruídos são minimizados e o engajamento aumenta.
As pessoas se sentem parte de algo maior (Pertencimento), respeitam a estrutura e as lideranças que vieram antes deles (Hierarquia), e têm suas contribuições reconhecidas de forma justa (Equilíbrio).
Essa harmonia impacta diretamente nos resultados da organização, pois uma comunicação clara, respeitosa e inclusiva reflete em decisões mais assertivas, menor conflito interno e uma cultura organizacional mais sólida e sustentável.
Como defensora da comunicação produtiva, acredito que ao aplicar os pilares das constelações sistêmicas nas empresas, conseguimos transformar a forma como nos relacionamos e, principalmente, como comunicamos. Esse alinhamento gera não só maior eficiência nos processos, mas também um ambiente de respeito mútuo e cooperação.
Se você quer que sua empresa se beneficie dessa abordagem, refletir sobre esses três pilares pode ser um excelente primeiro passo. E para fortalecer ainda mais essa jornada, considere contar e valorizar a história de quem deu início a tudo isso.