O que é comunicação de alto nível?

Foto de três pessoas sentadas ao redor de uma mesa com xícaras de café, bloco e caderno de anotações. Estão em ambiente parecido com uma cafeteria corporativa. Há um flip chart ao fundo com anotações.
A comunicação de alto nível ajuda a transformar interações em experiências construtivas, autênticas, eficazes e produtivas. | Foto: Freepik

Embora o termo “comunicação de alto nível” não seja amplamente consolidado na literatura científica como uma definição única, há alguns estudos e referências que nos ajudam a entender o que sustenta esse conceito.

Em geral, “comunicação de alto nível” é usada para descrever uma forma de comunicação sofisticada, eficaz, estratégica e que gera impacto positivo nas pessoas, nos relacionamentos e nos resultados. Essa ideia pode ser compreendida a partir da intersecção de algumas áreas como: comunicação interpessoal, comunicação organizacional, inteligência emocional, liderança e neurociência da comunicação.

Ao estudar sobre o assunto e observar na prática o que funciona e o que não funciona no ambiente corporativo, selecionei os seguintes eixos que sustentam esse tipo de comunicação. São eles:

1. Clareza e precisão (linguagem clara)

Segundo a Plain Language Association International (PLAIN), que é principal referência em linguagem simples no mundo, a comunicação de alto nível precisa ser compreensível na primeira leitura ou escuta por pessoas de todos os perfis.

Vários estudos – e nossa experiência – já nos mostraram que a clareza reduz erros, aumenta a produtividade e melhora a tomada de decisão. Mas não adianta se comunicar com clareza e despertar gatilhos ruins do outro lado, né? E, assim, vamos para o segundo eixo.

2. Inteligência emocional na comunicação

Daniel Goleman, em seus estudos sobre inteligência emocional, reforça que a habilidade de reconhecer, entender e gerenciar emoções próprias e alheias é essencial para uma comunicação eficaz.

Um estudo da TalentSmart mostrou que 90% dos profissionais com alta performance têm inteligência emocional elevada e isso se reflete na forma como se comunicam.

3. Escuta ativa e empática

Segundo Carl Rogers, psicólogo norte-americano que deu origem a Terapia Centrada na Pessoa, a escuta empática transforma relacionamentos, promovendo conexão e compreensão profunda.

Gosto de unir os termos “ativa e empática” porque isso torna a escuta ainda mais poderosa, especialmente para resolver conflitos e engajar equipes diversas. É aqui que entra um dos pilares da comunicação produtiva que eu defendo: o desejo genuíno de integrar pessoas.

Note que “integrar” é muito mais amplo – e trabalhoso – que “incluir”. Primeiro a gente inclui, chama a pessoa para participar. Depois é que vem todo o esforço contido nestes eixos da comunicação de alto nível para que ela se sinta realmente integrada a ponto de dar sua opinião sem medo de represálias.

4. Consistência entre comunicação verbal, não verbal e emocional

Estudo clássico de Albert Mehrabian aponta que a comunicação eficaz envolve mais do que palavras. Ele diz que o tom de voz e a linguagem corporal somam mais de 90% da percepção de credibilidade em algumas situações.

A comunicação de alto nível considera esse alinhamento entre o que se diz, como se diz e o que se demonstra emocionalmente.

5. Capacidade de adaptação ao público e ao contexto

Segundo a Harvard Business Review, líderes eficazes ajustam sua comunicação conforme o perfil da audiência, o momento e o canal (e-mail, conversa presencial, apresentação etc.).

Isso inclui domínio de linguagem inclusiva, acessível e alinhada à diversidade e às atuais demandas sociais.

6. Comunicação Não Violenta como metodologia estruturante

Desenvolvida por Marshall Rosenberg, a Comunicação Não Violenta (CNV) é uma abordagem prática que amplia a empatia, facilita a escuta mútua e ajuda a resolver conflitos de forma construtiva.

Ao se basear em observações, sentimentos, necessidades e pedidos, a CNV proporciona uma comunicação mais consciente, colaborativa e transformadora. Em ambientes profissionais, é uma ferramenta poderosa para feedbacks, negociações, gestão de equipes, construção de confiança e regulação das próprias emoções.

7. Atenção ao impacto da mensagem

Pesquisas em neurociência (como as de David Rock e seu modelo SCARF) mostram que pequenas escolhas linguísticas podem ativar gatilhos de ameaça ou recompensa no cérebro de ouvintes.

Comunicar-se com consciência do impacto emocional e relacional da mensagem é uma marca de maturidade comunicacional e nos ajuda a verificar quais aspectos de nossa comunicação (racional ou emocional) precisa de ajustes.

8. Capacidade de influenciar e inspirar

Estudos sobre liderança transformacional (James MacGregor Burns; Bass & Riggio) apontam que a comunicação inspiradora é uma das chaves para o engajamento de equipes.

A comunicação de alto nível, nesse contexto, mobiliza pessoas para a ação com propósito e não apenas informa claramente sobre determinado assunto. Para chegar neste nível, a pessoa deve estar em dia com os 7 eixos citados anteriormente.

Como pode observar, cada eixo da comunicação de alto nível é sustentado por teorias, pesquisas empíricas ou revisões acadêmicas bem conduzidas. Esses componentes – juntos – formam uma abordagem sistemática e treinável, que vai além de técnicas isoladas. Eles oferecem um caminho, como uma estratégia, para transformar interações em experiências construtivas, autênticas, eficazes e produtivas, seja em ambientes profissionais, educacionais ou pessoais.

Minha recomendação é que você dedique um tempo analisando seu atual estilo de comunicação de acordo com cada um desses 8 eixos. Crie uma escala de maturidade simples – de 0 a 5 – e pergunte-se em qual posição você está em cada um dos eixos.

Seja o mais fiel consigo quanto puder (sem sofrimento) e não se envergonhe se notar que “suas notas” estão baixas. Essa consciência é o primeiro passo para a mudança e para traçar seu próprio plano ação para ser reconhecido ou reconhecida como alguém que se comunica em alto nível.

E se precisar de ajuda nesse processo, já sabe: conte comigo!


Referências bibliográficas:

Plain Language Association International (PLAIN), disponível em: plainlanguagenetwork.org

Goleman, Daniel. Inteligência Emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995 (ou 2011 para edições posteriores).

Goleman, Daniel. Trabalhando com a Inteligência Emocional. Editora Objetiva, 1998.

TalentSmart, Emotional Intelligence 2.0, relatórios e estudos disponíveis em talentsmart.com

Rogers, Carl R. Client-Centered Therapy: Its Current Practice, Implications and Theory. Boston: Houghton Mifflin, 1951.

Mehrabian, Albert. Silent Messages: Implicit Communication of Emotions and Attitudes. Belmont, CA: Wadsworth, 1971.

Harvard Business Review, artigos que podem ser consultados em hbr.org

Rosenberg, Marshall B. Comunicação Não Violenta: Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Editora Ágape, 2003 (título original: Nonviolent Communication, 1999).

Rock, David. “SCARF: A brain-based model for collaborating with and influencing others.” NeuroLeadership Journal, Issue One, 2008.

Bass, Bernard M. e Riggio, Ronald E. Transformational Leadership. 2nd ed. Mahwah, NJ: Erlbaum, 2006.